Como são bonitas as luzes da cidade. Os postes acesos à meia-noite vistos de dentro de um carro em movimento, dois adultos conversando no banco da frente e um adolescente observando o mundo enquanto amarga por decepção e reluz por esperança no banco de trás.
Como são plasticamente estéticos os cigarros num cinzeiro gasto, a chuva no asfalto gasto, a tv gasta dos anos 90, o quarto católico da minha bisavó nas últimas, os dias se arrastando pelo calendário de papel molhado, as brigas sonoras dos vizinhos infiéis… O anseio pelo futuro que havia no passado e que hoje já se tornou realidade, acabou há tempos e está nos confins de um mundo que não existe mais. Morreu como uma planta abandonada e seca sem uma gota d’água, até que as folhas apodrecessem no esquecimento.
Como são tristes as velas numa igreja, o grito de quem apanha, o último sopro de vida de quem aguarda sua hora num leito da enfermaria do hospital, o desamparo de quem é só, o conformismo de quem desistiu de sonhar... Tem hora que a gente sente na pele o terror do pesadelo e não tem despertar que faça parar a dor — é tudo a mais pura realidade nua, crua, maldosa, cruel e sádica (assim como nós).
Como são fortes as palavras escritas. A gente fica pensando, relendo, juntando desenhos e traços dentro da cabeça, inventa cenários, cria paranoias e, no final, desconta emoções torrenciais e desnorteadas em algum inocente que não tem nada a ver com a história, a nossa própria história sem jornada do herói nem princesa em castelo alto.
A propósito, independente de qualquer humor, as luzes da cidade vão estar acesas amanhã à noite, mais uma vez, pela milionésima vez. Elas vão te fazer sonhar acordado para onde os pesadelos não te alcancem de jeito nenhum. E é bom que você esteja preparado para o próximo anoitecer.
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Uma news um tanto quanto aesthetic, não é mesmo?
Sempre uma delÃcia te ler, Thiago. O equilÃbrio perfeito de poético e visceral <3