🤞Os não-sabidos últimos.
Houve uma última vez em que seu pai te pegou no colo, antes de você pesar demais e já ser uma grande pequena criança. Você nem fazia ideia de que aquele era o último colo.
Houve uma última vez em que você construiu um castelo de areia, foi levado dentro do carrinho do supermercado, subiu em uma árvore, brincou de pega-pega, dormiu abraçado ao seu ursinho de pelúcia. Você nem fazia ideia de que aquelas eram as últimas vezes de uma derradeira infância.
Houve uma última vez em que você disse amar quem já morreu, antes de você se afogar novamente no cotidiano e esquecer a vida de quem vive. Você nem fazia ideia de que aquele era o último olhar.
Cruéis são os últimos não-sabidos, que são esquecidos como brinquedo no fundo do guarda-roupa — que não faz mais falta pois certo dia você acordou desejando interesses mais interessantes. Como são amargos os não-sabidos últimos, que viram matéria-prima de nostalgia futura; de calorosa saudade.
Você vive sem perceber que tá vivendo algo que nunca mais vai se repetir. Mesmo quando se repete, não se repete igual. Carpe diem nunca foi sobre cometer loucuras, mas cometer a presença enquanto se presencia o tudo ou até mesmo o nada.
Houve, inclusive, uma última vez em que você gargalhou até a barriga doer e o choro molhar, mas você nem se lembra mais quando foi.
O cotidiano, pela milésima vez, encheu a maré e te afogou no raso.
Algumas recomendações
Por acaso, na semana passada também aconteceu a series finale de Succession, outra série impressionante e premiadíssima que te prende do começo ao fim. Estou órfão de séries :(
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Clique na imagem abaixo para ler a introdução :)
Textão lindo! Tô aqui tomando o meu café da manhã e já penso em abortar o dia só pra ficar refletindo sobre esse texto.
Texto cheio de reflexão e poesia.
Se escrevo ontem, hoje e amanhã...é porque das fases que não escrevi, não me recordo de quase nada.
Escrevo para me lembrar de tudo o que fui ou o que busquei ser.
Memória é arma traiçoeira